Alice Vieira
JN, 30/03/08
Quem me conhece, há muito que ouve o meu discurso preocupado sobre as novas tecnologias e as consequências perversas que a nossa permissiviade e a falta de informação na compra destes aparelhos ou de avisos de departamentos de saúde, iria provocar no futuro adulto...
desde 1993 (quando meu filho tinha 3 anos e ingenuamente na creche começaram a pô-lo à frente da televisão desde o 1 ano e eu estupidamente, já que como educadora tinha a obrigação de ter avaliado a situação e deixei-me arrastar ), depois de ter vivido em casa comportamentos estranhos por parte do meu filho que depois tive que concluir e confirmar quando lha retirei, terem origem na visualização de TV sem regras. Infelizmente tinha razão. Não me admira que os sucessivos governos nada façam para controlar este problema...
admira-me é não ver sair avisos de sectores de Escolas superiores de educação e de saúde ou Universidades. Na venda de Televisões e computadores e jogos para uns e outros, deveria ser obrigatório estar ainformação sobre o tempo mínimo e máximo de utilização e as consequências que poderia haver nas crianças e até nos adultos.
Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas. Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os "Morangos com açúcar", só
quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se. Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar…- é que tem
coragem de afirmar que não existe violência nas escolas…) Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe! O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social. Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador. Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs. E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano. E por isso as nossas
crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam. Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido. Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho. E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias. A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar. A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento. E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã. E nós deixamos.
JN, 30/03/08
Quem me conhece, há muito que ouve o meu discurso preocupado sobre as novas tecnologias e as consequências perversas que a nossa permissiviade e a falta de informação na compra destes aparelhos ou de avisos de departamentos de saúde, iria provocar no futuro adulto...
desde 1993 (quando meu filho tinha 3 anos e ingenuamente na creche começaram a pô-lo à frente da televisão desde o 1 ano e eu estupidamente, já que como educadora tinha a obrigação de ter avaliado a situação e deixei-me arrastar ), depois de ter vivido em casa comportamentos estranhos por parte do meu filho que depois tive que concluir e confirmar quando lha retirei, terem origem na visualização de TV sem regras. Infelizmente tinha razão. Não me admira que os sucessivos governos nada façam para controlar este problema...
admira-me é não ver sair avisos de sectores de Escolas superiores de educação e de saúde ou Universidades. Na venda de Televisões e computadores e jogos para uns e outros, deveria ser obrigatório estar ainformação sobre o tempo mínimo e máximo de utilização e as consequências que poderia haver nas crianças e até nos adultos.
Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas. Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os "Morangos com açúcar", só
quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se. Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar…- é que tem
coragem de afirmar que não existe violência nas escolas…) Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe! O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social. Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador. Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs. E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano. E por isso as nossas
crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam. Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido. Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho. E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias. A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar. A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento. E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã. E nós deixamos.
4 comentários:
Sem dúvida que essa é uma (grande) parte do problema. A demissão dos pais do seu papel de educadores. Mas isto não é só em Portugal. lembro-me que em Londres ia eu no Metro com o meu filho que na altura deveria ter uns 4 anos e já não sei que disparate fez. Ralhei e expliquei que não o devia fazer. estava uma sra. que em Inglês só me disse. Fez muito bem em. Hoje os pais já não se preocupam em educar os filhos ... por isso é que quando me vêm com histórias de que este é um problema apenas nosso ... não que isso o torne menos grave. Aliás é ate´mais grave . É a demissão da maioria dos pais de toda a civilização ocidental. Demissão para o ecrã ou para a ru ou para o vazio ... mas demissão. Subscrevo.
em relação ao uso abusivo das tecnologias acho que como tudo o
que é excessivo faz mal e é contraproducente, no entanto, considero-me menos fundamentalista que a Alice Vieira em relação a este respeito. acho que as novas tecnologias so trazem vantagem se forem doseadas regradamente sobre tudo em dolescentes e crianças , e e aqui sim, entra a outra parte em que os pais se demitem muitas vezes da função de educadores, esquecem que numa sala de aula temos de deducar 20 ou trinta. o
que siginifca que a educaçao não é doseada devidamente.
se eu "mandasse" lol, obrigava todos os pais educadores auxiliares, avós, enfim todo o pessoal que esta implicitamente ligado á educação de crianças a lerem o livro "Diga não aos seus filhos" de John Rosemond , Lá diz tudo o que se perdeu e o que se achou...
Nem imaginas quantas horas os garotos passam em frente à T.V. sem nada para fazer. E quando os pais se lembram de os afastar, não lhes sugerem actividades alternativas, querem é a T.V. para eles ;)
Grande parte dos meus alunos assume que não conversa com os pais. É só o costumeiro "tens tpc's?" ou "correu bem a escola, hoje?". Já nem há o jantar em conjunto... Assim é difícil!
sim lá está !!!! precisamente.
Bjoka
helena
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